Respostas do Dr. Greene

PERGUNTA:


Você conhece algum tipo de tratamento de dessensibilização para meu filho (que completará 5 anos de idade em dezembro) e que tem uma alergia fatal a nozes (amendoins e todos os tipos de nozes)? Eu ouvi dizer que surgiu um em Denver, Colorado, porém nosso especialista em Toronto (Hospital Infantil) disse não ser recomendável este tratamento para qualquer um com menos de 16 anos de idade, devido à natureza recente do tratamento e à falta de resultados estabelecidos. Isto significa então que continuaremos a ter esta espada de Dâmocles sobre nós e nossas vidas para sempre?

Sonny Jose, Mississauga, Ontario, Canadá

DR. ALAN GREENE:


Uma criança de 5 anos come por algumas horas para ingerir o combustível que ela precisa para obter energia, para crescer e manter seu corpo. Geralmente, comer é tanto divertido quanto é importante. Algumas vezes, porém, é fatal.

Alguns indivíduos têm reações a alguns alimentos em particular. Estas reações podem variar de uma intolerância leve a alergias fatais. A maioria das crianças que desenvolvem alergias alimentares altamente perigosas costuma ter asma ou um histórico familiar de asma, eczema ou rinite alérgica. A maioria tem reações leves a moderadas (prurido, respiração com chiado, formigamento, diarreia, etc.) ao alimento ofensivo, antes que a alergia se torne grave. Em algumas crianças, a primeira vez que elas comem um alimento em particular, elas se tornam sensibilizadas e na segunda vez, mesmo que seja uma quantidade minúscula do alimento, uma reação explosiva ocorre.

Alergias letais (mais ocorrentes com nozes, amendoins ou mariscos) podem matar crianças em duas maneiras. A primeira se chama laringoespasmo. Conforme o alimento é engolido, produz um inchaço imediato que se espalha para as cordas vocais. Se as cordas vocais incham a ponto de se fecharem, a criança não consegue respirar e morre com uma rapidez aterrorizante. O segundo mecanismo se chama choque anafilático. A crianças engolem e digerem o alimento e, em até duas horas depois, passa por um choque e morre.

Costumávamos pensar que crianças com alergias alimentares letais não se livravam naturalmente delas. Agora sabemos que isto é possível, mesmo sem tratamento.

Para alguns tipos de alergias, um processo chamado de dessensibilização é eficiente para reduzir alergias. A dessensibilização envolve a administração de quantidades muito pequenas e gradualmente crescentes da substância que causa a alergia na criança, na expectativa de permitir ao corpo se ajustar e amenizar a resposta a tal substância. "Injeções de alergia" são uma tentativa de dessensibilização, ou ao menos hipossensibilzar, alguém que é alérgico. Até recentemente, a dessensibilização não tinha se provado eficiente em qualquer alergia alimentar.

Devido à dessensibilização ter ajudado algumas crianças com reações anafiláticas a picadas de abelha, muitos alergistas têm se perguntado se este processo poderá ajudar crianças com alergias fatais a nozes ou amendoins. As reações alérgicas são ainda mais explosivas quando a substância ofensiva é injetada ao invés de ingerida, desta forma, tal tentativa poderia se provar bastante perigosa. Se funcionasse, porém, seria uma grande vitória, já que estas crianças estão sob um grande risco.

Em 1996, um corajoso médico, Harold Nelson, M.D. no Centro Nacional Judeu de Imunologia e Doenças Respiratórias em Denver, Colorado, lançou um estudo heroico sobre a dessensibilização do amendoim. Este estudo foi extremamente bem projetado e cuidadosamente administrado. Foi um estudo controlado no qual algumas crianças foram injetadas com extrato de amendoim e algumas foram injetadas com um placebo. As injeções eram dadas apenas com uma unidade completa de UTI e suporte de um departamento de emergência. É difícil imaginar um local mais seguro para conduzir este estudo do que um centro mundialmente renomado, com pessoas que têm grande respeito pela gravidade das alergias. Mesmo assim, uma criança que recebeu a injeção de extrato de amendoim morreu segundos após de laringoespasmo, antes que a ressuscitação fosse possível. Esta tragédia terminou abruptamente o único estudo conduzido sobre dessensibilização a alergias a amendoim.

Em seguida, o padrão foi estudado, de forma que os pesquisadores souberam quais crianças receberam o placebo e quais receberam o extrato de amendoim. Os dados preliminares indicaram que, no geral, as crianças que receberam o extrato de amendoim se mostraram um pouco menos sensíveis às alergias a amendoim do que eram no início. Eu conversei com o alergista Andrew Engler, M.D., que enfatizou que no presente momento esta informação é de uso teórico apenas.

Alergias fatais a nozes e amendoins podem ser condições vitalícias. Antes de embarcar em um árduo tratamento para estas condições, é importante certificar-se de que o diagnóstico esteja claro. Eu conversei com o alergista Steven Machtinger, M.D., que relatou o caso de um garoto que teve uma reação anafilática após comer uma barra do doce Butterfingers. Foi presumido inicialmente que ele tinha uma alergia fatal a algum tipo de noz. O diagnóstico de um exame de sangue, chamado exame RAST, não revelou nenhuma alergia a nozes. Ele foi seguido por um teste cutâneo que similarmente, que não revelou nenhuma alergia a nozes. Tenha certeza sobre o diagnóstico, porque o tratamento é difícil.

A principal parte do tratamento é evitar absolutamente e completamente por toda a vida todas as nozes e amendoins, em qualquer forma. Isto inclui óleos e manteigas de nozes. A maior parte da ingestão de produtos de nozes feitas por pessoas que conhecem suas alergias ocorre quando as nozes estão presentes na forma de ingredientes ocultos, como bolo, rocambole ou até mesmo na forma de molhos. Um jovem uma vez pediu um biscoito de chocolate sem nozes, em uma loja de biscoitos conhecida nacionalmente. Na primeira mordida, ele reconheceu o biscoito como sendo um biscoito de chocolate e manteiga de amendoim. Infelizmente, já era tarde: momentos depois uma ressuscitação completa estava acontecendo. Ele precisou sair da loja de biscoito em um respirador artificial. Felizmente, ele sobreviveu.

Isto mostra que, não importa quanto cuidado você tenha, é quase inevitável que irá acontecer um dia: seu filho irá comer nozes. Eu digo isto agora na esperança de que, quando isto acontecer, vocês se lembrarão de meus comentários e que possam ver a si mesmo com a mesma compaixão que eu sinto por vocês neste momento, sem sentimentos de culpa ou julgamento. Eu também lhes digo isto para que vocês possam levar bastante seriamente a segunda fase do tratamento. Vocês deverão estar preparados para lidar com uma emergência quando acontecer.

Aprenda ressuscitação cardiopulmonar (RCP)

Seu filho precisará de um kit injetável de epinefrina, ou melhor, dois kits. Epinefrina injetável é um medicamento que poderá interromper sua reação em uma emergência. Você e esposa deverão carregar um kit com epinefrina em todas as ocasiões, 24 horas por dia. É importante que você dois estejam seguros em relação o uso deste kit. Se você pensa que houve um caso de ingestão de nozes, é recomendável usar o kit! Não espere para ver. Após usar o kit de epinefrina, leve seu filho ao pronto-socorro imediatamente. Sempre discuta com o seu médico alergista e siga suas orientações.

Ensine aos outros o que fazer


Assim que você aprender como administrar os cuidados de emergência, é vital que você ensine a qualquer outro adulto que irá cuidar de seu filho. Estes adultos deverão saber aplicar RCP e deverão ter um kit de epinefrina injetável. Em um estudo chocante feito na Universidade John Hopkins, 13 crianças com alergias fatais foram acompanhadas: 6 delas morreram. Todas estas 6 crianças tinham ingerido nozes enquanto estavam em suas escolas. Elas imediatamente foram enviadas para as enfermeiras das escolas, que disseram a elas para se deitar e vir se se sentiam melhor. Cada uma delas sentiu-se melhor e voltou para a aula... e morreu. Converse com os professores de seu filho, diretor e enfermeira da escola, pessoalmente. Qualquer adulto que esteja tomando conta de seu filho deverá receber uma mensagem por escrito que indica que seu filho possui uma alergia fatal a nozes e amendoins em todas as formas.

Encontre apoio


Não faça tudo por conta própria. Parece-me que você tem um alergista bem informado. Isto é bom. Você também irá se beneficiar estabelecendo relações com outras famílias que estão passando pela mesma coisa. Grupos de apoio à alergia alimentar estão disponíveis em muitos locais. Você poderá ou não entrar em contato com seu grupo local de apoio.

Algumas pesquisas que estão sendo feitas neste momento sobre alergias letais são muito interessantes. Empresas como Genentech, baseada próxima a São Francisco, Califórnia, estão trabalhando em produtos para bloquear este tipo de resposta alérgica a níveis celulares e moleculares. Esta pesquisa é bastante promissora, porém ainda em fase de investigação apenas.

Alergias fatais não são raras. Apesar de serem tão letais quanto comuns, muito poucas crianças chegam a morrer devido a estas alergias. Com esta combinação de prevenção, preparação e educação, seu filho de cinco anos terá uma vida longa e saudável pela frente.

Alan Greene, M.D., obteve o Bacharelado na Universidade de Princeton e se graduou na escola médica da Universidade da Califórnia, em São Francisco. Após o término de seu programa de residência pediátrica no Centro Médico do Hospital Infantil da Califórnia do Norte em 1993, ele serviu como Residente Chefe. Durante seu ano como Chefe, Dr. Greene foi aprovado nos comitês pediátricos junto aos melhores 5% do país.

Dr. Greene ingressou na pediatria de cuidados primários em janeiro de 1993. Ele está na Faculdade Clínica da Escola de Medicina da Faculdade de Stanford, onde atende pacientes e ensina aos residentes. Ele também é o fundador e CEO de DrGreene.com. Dr. Greene também foi nomeado como Herói da Saúde na Internet pela Intel, na área de saúde infantil. Ele é autor de livros, especialista médico e uma personalidade.

Dr. Greene é o autor de Raising Baby Green (Wiley Books, 2007), From First Kicks to First Steps (McGraw-Hill, 2004), e The Parent's Complete Guide to Ear Infections (Avon Books, 1997). Ele também é o co-autor do livro A.D.A.M. Illustrated Family Health Guide (A.D.A.M., Inc., 2004). Dr. Greene também já apareceu e inúmeras publicações incluindo o Wall Street Journal, Parenting, Parent, Child, American Baby, Baby Talk, Working Mother, Better Home's & Gardens, e Reader's Digest. Ele também aparece frequentemente em programas de televisão e rádio como especialista médico.

 


Data da revisão: 6/29/2011
Revisão feita por: Paula J. Busse, MD, Assistant Professor of Medicine, Division of Clinical Immunology, Mount Sinai School of Medicine, New York, NY, Review provided by VeriMed Healthcare Network. Also reviewed by David Zieve, MD, MHA, Medical Director, A.D.A.M., Inc.
As informações aqui fornecidas não deverão ser usadas durante nenhuma emergência médica, nem para o diagnóstico ou tratamento de doenças. Um médico licenciado deverá ser consultado para o diagnóstico e tratamento de todas as doenças. Os links para outros sites são fornecidos apenas a título de informação e não constituem um endosso a eles. Nenhuma garantia de qualquer natureza, seja expressa ou implícita, é feita quanto à precisão, confiabilidade, conveniência ou correção de quaisquer traduções das informações fornecidas aqui para quaisquer outros idiomas, feitas por um serviço de terceiros. © 1997- A.D.A.M., unidade de negócios da Ebix, Inc. A reprodução ou distribuição das informações aqui contidas é terminantemente proibida.
© 1997- adam.comTodos os direitos reservados