Respostas do Dr. Greene |
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PERGUNTA:
Dr. Greene, minha filha de dois anos de idade bebe muito líquido durante o dia. Pode ser água, suco, leite, o que seja. Eu estou preocupada. É normal uma criança beber de 5 a 8 mamadeiras de líquido durante o dia? Ou isso é um sinal de diabetes? Devo levá-la para fazer exames? Existem outros sinais pelos quais eu deveria procurar? Estou realmente preocupada.
Obrigada, Irina E.
DR. ALAN GREENE:
Irina, na segunda-feira da semana passada, pela manhã, eu peguei a primeira ficha na minha caixa de entrada e comecei a ir para a Sala de Exame 1 (a Sala Safari). Antes de abrir a porta, eu parei para abrir a ficha e ver as anotações da enfermeira. Eu iria atender um menino de sete anos que a mãe tinha trazido porque ele estava bebendo muito mais líquido do que o normal nas últimas duas semanas, mais ou menos, especialmente durante o último fim de semana.
Entrei na sala e cumprimentei mãe e filho. Eles confirmaram o que tinha sido escrito na ficha, acrescentando que ele também estava urinando muito mais que o normal e, talvez, tivesse perdido peso. Conforme eles falavam, eu percebi que a mãe se sentia um pouco culpada com a possibilidade de ter trazido o filho sem necessidade, mas ao mesmo tempo ela estava preocupada pela possibilidade de ser algum problema realmente grave. É comum os pais enfrentarem esse dilema. Sempre que você estiver em dúvida se deve ou não consultar um médico, consulte.
As roupas do menino estavam realmente largas, mas ele parecia saudável. Fizemos um exame de urina simples no consultório e, dois minutos depois, descobrimos que ele apresentava uma quantidade muito alta de açúcar e cetonas em sua urina. Ele tinha diabetes.
Mesmo a mãe tendo suspeitado do diagnóstico, ela ficou totalmente chocada. Ele não podia acreditar que era verdade. Eu os encaminhei para o laboratório do hospital, que fica do outro lado do estacionamento, para que fossem realizados alguns exames de sangue. Seu nível de açúcar no sangue era de 645 mg/dL! Uma taxa de açúcar no sangue em jejum acima de 126 mg/dL ou uma taxa glicêmica em horário aleatório acima de 200 mg/dL é diagnóstico de diabetes, de acordo com a definição oficial da Associação Americana de Diabetes publicada em 23 de junho de 1997.
Eu encaminhei o menino surpreso ao Hospital Infantil Packard, em Stanford, para que toda a família aprenda uma nova forma de vida com o diabetes tipo 1.
Agora, Irina, devo assegurar-lhe que a PRIMEIRA parte do cenário acima ocorre no meu consultório, mais ou menos, a cada duas semanas. Uma criança é trazida apenas por estar bebendo ou urinando mais do que o normal. O peso e o exame físico estão normais e eu faço um exame de urina. Felizmente, o resultado do exame quase sempre é normal e todos podem respirar fundo e relaxar.
Cerca de uma vez por ano, entretanto, diagnostico alguém com diabetes. O nome vem das palavras gregas para "fluir através" e "doce". Os médicos gregos costumavam diagnosticar a condição experimentando, literalmente, o sabor da urina. (Isso que é dedicação!)
Sede relacionada ao diabetes
Normalmente, um hormônio, denominado insulina, empurra o açúcar do sangue para dentro das células do corpo, onde ele pode ser utilizado como combustível. A concentração de açúcar no sangue permanece dentro de uma faixa bastante estreita. Se o corpo para de produzir insulina (diabetes tipo 1), então, as células não recebem a quantidade de açúcar adequada. Até 1997, o diabetes tipo 1 era chamado também de diabetes juvenil ou diabetes mellitus dependente de insulina (IDDM).
Na verdade, todos nós somos dependentes da insulina, o que ocorre é que algumas pessoas param de produzir sua própria insulina. Sem a insulina, os músculos e a gordura começam a ser queimados pra gerar o combustível (uma evidência disso, as cetonas, aparece na urina). A pessoa sente fome o tempo todo, mas perde peso apesar de comer mais. Sem a reposição da insulina, a pessoa acabará morrendo de inanição. Ao mesmo tempo, a concentração de açúcar no sangue começa a aumentar. Quando seu nível atinge 180 mg/dL, o açúcar começa a ser eliminado na urina. Isso faz com que a pessoa produza mais urina e, então, tenha mais sede, criando um ciclo de aceleração.
Assim, os sintomas clássicos do diabetes tipo 1 são aumento na urinação (poliúria), aumento da sede (polidipsia), aumento da fome (polifagia) e perda de peso. Qualquer pessoa com os sintomas clássicos deve fazer um exame de glicemia e um exame de urina. Ocasionalmente, as pessoas relatam também fadiga, visão embaçada, vômito, dor abdominal ou infecções frequentes na pele. Se a doença permanecer sem diagnóstico, os sintomas progridem para dificuldade respiratória, coma e morte.
Indivíduos com diabetes tipo 1 nasceram com uma predisposição genética para ele. Porém, nem todos que nascem com essa predisposição desenvolvem o diabetes. Na verdade, se um gêmeo idêntico desenvolver o diabetes, apenas em cerca de metade dos casos o outro gêmeo também o desenvolve. Ao longo do caminho, alguns dos indivíduos predispostos são expostos a alguma coisa no ambiente que desencadeia o diabetes. Pode ser uma infecção viral. O vírus engana o sistema imunológico do corpo para produzir anticorpos contra suas próprias células pancreáticas que produzem a insulina. É por isso que o diabetes tipo 1 hoje é denominado também de diabetes imune-mediado.
As células do pâncreas que produzem a insulina são, gradualmente, destruídas com o tempo. Quando 90% delas tiverem sido destruídas, a pessoa subitamente começa a desenvolver os sintomas. Dessa forma, o diabetes dependente de insulina se desenvolve por anos, mas surge de repente. Raramente, seu diagnóstico demora mais do que umas poucas semanas.
O diabetes imune-mediado ou tipo 1, normalmente, atinge os jovens, especialmente entre as idades de 5 e 7 anos (quando as viroses são comuns nas escolas) ou na puberdade (quando ocorrem muitas mudanças hormonais). Por essa razão, costumava ser chamado de diabetes juvenil. Hoje, esse termo não é mais usado, pois sabemos que ele pode aparecer em qualquer idade. Cerca de 0,4% das pessoas em geral (ou um em cada 250) desenvolverá o diabetes tipo 1 em algum momento. Aproximadamente 800.000 pessoas apresentam diabetes tipo 1 nos Estados Unidos hoje. Cerca de 30.000 pessoas desenvolvem essa condição a cada ano e suas vidas nunca mais serão as mesmas.
O diabetes tipo 2 é causado não pela ausência de insulina, mas pela ação incorreta da insulina. É muito mais frequente em pessoas acima do peso com mais de 45 anos, mas pode ocorrer em qualquer idade e peso, e tem sido observado cada vez mais comumente em crianças obesas. Em geral, não apresenta sintomas. Assim, frequentemente, é descoberto em exames de rotina. Os Institutos Nacionais de Saúde norte-americanos estimam que mais de 7 milhões de adultos nos Estados Unidos apresentam diabetes tipo 2 não diagnosticado. Espera-se que esses números continuem a crescer.
Dessa forma, Irina, dada sua preocupação com sua filha, eu recomendaria trazê-la para uma consulta. Uma vez que essa enorme sede dela parece ser seu padrão normal e não um aumento recente, espero que você fique feliz com os resultados.
Alan Greene, M.D., recebeu o diploma de Bacharel pela Universidade de Princeton e graduou-se pela escola de medicina da Universidade da Califórnia, em São Francisco. Após concluir sua residência em pediatria no Children's Hospital Medical Center of Northern California (Centro Médico do Hospital da Criança do Norte da Califórnia) em 1993, ele atuou como Residente Chefe. Durante seu ano como Residente Chefe, o Dr. Greene passou nas juntas pediátricas entre os 5% melhores médicos do país.
O Dr. Greene ingressou na pediatria de cuidados primários em janeiro de 1993. Ele atua no Corpo Docente Clínico da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, onde atende os pacientes e ensina os Residentes. Ele atua como Diretor Médico da A.D.A.M., Inc., a provedora líder de informações de saúde para o consumidor, e ajuda a administrar o processo editorial da A.D.A.M. Como Diretor da A.D.A.M., ele atuou como membro fundador do Hi-Ethics (Ética para Sites de Saúde na Internet) e ajudou a URAC a desenvolver suas normas para certificação eHealth. Ele é, também, o Fundador e Presidente do DrGreene.com. Além disso, o Dr. Greene foi nomeado Herói da Saúde na Internet da Intel com relação à saúde da criança. Ele é autor, médico especialista e personalidade da mídia.
É o autor de The Parent's Complete Guide to Ear Infections (Guia Completo para Pais sobre Infecções de Ouvido) (People's Medical Society, 1997). O Dr. Greene já apareceu em várias publicações, incluindo Wall Street Journal, Parenting, Parent, Child, American Baby, Baby Talk, Working Mother, Better Home's & Gardens e Reader's Digest. Ele também aparece frequentemente em programas de televisão e rádio como médico especialista.
Referências
Associação Americana de Diabetes. Standards of medical care in diabetes (Padrões de cuidados médicos em diabetes)--2009. Diabetes Care. 2009 Jan;32 Suppl 1:S13-61.
Alemzadeh R, Wyatt DT. Diabetes mellitus in children (Diabetes mellitus em crianças). In: Kliegman RM, ed. Kliegman: Nelson Textbook of Pediatrics. 18a. ed. Filadélfia, Pa: Saunders;2007:cap. 590.
Eisenbarth GS, Polonsky KS, Buse JB. Type 1 diabetes mellitus (Diabetes mellitus tipo 1). In: Kornenberg HM, Melmed S, Polonsky KS, Larsen PR. Kronenberg: Williams Textbook of Endocrinology. 11a ed. Philadelphia, Pa: Saunders Elsevier;2008:cap 31.
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