Respostas do Dr. Greene |
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PERGUNTA:
Dr. Greene, tendo uma criança diabética recém-diagnosticada, eu me pergunto por quê as infeções por fungos não estão incluídas nos sintomas para diagnóstico, especialmente no caso de bebês e de crianças pequenas? Todos os pais com quem conversei (e minha própria filha) confirmaram que nossos filhos primeiro apresentaram infecções fúngicas que não eram resolvidas. Minha filha tinha 3 anos e já usava o banheiro, mas ninguém descartou diabetes mellitus (DM). A maioria dos pais com quem converso citou os fungos, mesmo em meninos. Eu estava alarmada com o fato da equipe de pediatras não considerar isso, além de não estar mencionado em nenhum lugar nos panfletos de informações para o público sobre o que você deve saber sobre diabetes, porque a maioria das crianças chega a ter crises diabéticas antes de receber o diagnóstico. O que você acha disso?
DSTimboCC_2, enfermeira
DR. ALAN GREENE:
Timbo, estou muito feliz por você ter levantado essa questão. De fato, há formas de detectar o diabetes precocemente, mas a maioria das crianças com diabetes tipo 1 não são diagnosticadas até a situação ter se tornado desesperadora. Os sintomas de diabetes com os quais a maioria das pessoas está familiarizada (aumento da sede e da urinação) são sinais de alerta muito tardios. Nesse ponto, a criança está perigosamente próxima do fim, a menos que ela receba tratamento imediato.
O diabetes se desenvolve lentamente
O diabetes é um processo lento que começa muito antes de os sintomas aparecerem.
As pessoas que desenvolvem diabetes tipo 1 nasceram com uma predisposição genética para essa condição. Porém, nem todos que nascem com essa predisposição desenvolvem o diabetes. Na verdade, se um gêmeo idêntico desenvolver o diabetes, apenas em cerca de metade dos casos o outro gêmeo também o desenvolve. Ao longo do caminho, alguns dos indivíduos predispostos são expostos a alguma coisa no ambiente que desencadeia o diabetes. Pode ser uma infecção viral. O vírus engana o sistema imunológico do corpo para produzir anticorpos contra suas próprias células pancreáticas que produzem a insulina. É por isso que o diabetes tipo 1 hoje é conhecido também como diabetes imune-mediado.
O diabetes tipo 1 atinge mais frequentemente os jovens, especialmente entre as idades de 5 e 7 anos (quando as viroses são comuns nas escolas) ou na puberdade (quando ocorrem muitas mudanças hormonais). Por essa razão, costumava ser chamado de diabetes juvenil. Hoje, esse termo não é mais usado, pois sabemos que ele pode aparecer em qualquer idade.
Normalmente, um hormônio, denominado insulina, força o açúcar do sangue para dentro das células do corpo, onde ele pode ser utilizado como combustível. Essa insulina é produzida no pâncreas. O diabetes é um ataque ao pâncreas.
No início do diabetes, as células do pâncreas que produzem a insulina são gradualmente destruídas ao longo de meses ou anos. As células restantes são capazes de compensar essa situação aumentando sua produção de insulina. O corpo ainda pode produzir insulina suficiente para manter a concentração de açúcar no sangue dentro de uma faixa bastante estreita.
Geralmente, o diabetes é diagnosticado logo após os sintomas aparecerem
Quando 90% das células produtoras de insulina tiverem sido destruídas, a pessoa subitamente começa a desenvolver os sintomas. Dessa forma, o diabetes tipo 1 se desenvolve por anos, mas se manifesta de repente. Após o aparecimento dos sintomas, raramente o diagnóstico demora mais do que umas poucas semanas.
Os sintomas clássicos do diabetes tipo 1 são aumento na urinação (poliúria), aumento da sede (polidipsia), aumento da fome (polifagia) e perda de peso. Qualquer pessoa com os sintomas clássicos deve fazer um exame de glicemia e um exame de urina. Ocasionalmente, as pessoas relatam também fadiga, visão embaçada, vômito, dor abdominal ou infecções frequentes na pele. Se a doença permanecer sem diagnóstico, os sintomas progridem para dificuldade respiratória, coma e morte.
Detecção precoce
Seria muito melhor diagnosticar o diabetes bem antes de as coisas saírem do controle! Como você mesma destacou, Timbo, infecções fúngicas crônicas (ou outras infecções de pele) podem ser um sinal de alerta precoce. Crianças saudáveis que usam fraldas normalmente apresentam dermatites fúngicas causadas pelas fraldas. Mas se essas infecções são muito frequentes ou não se curam facilmente com o tratamento adequado, eu fico preocupado. Se for uma criança que já largou as fraldas, eu prefiro dosar a glicemia em jejum após uma única infecção fúngica, especialmente se houver história familiar de diabetes.
Há outros exames disponíveis para a detecção ainda mais precoce do processo de diabetes. Indivíduos com diabetes tipo 1 apresentam anticorpos mensuráveis em seu sangue que revelam sua condição autoimune. Um dos autoanticorpos encontrados em pessoas com diabetes tipo 1 é o anticorpo contra células das ilhotas pancreáticas. Esse anticorpo geralmente pode ser detectado meses ou anos antes do aparecimento dos sintomas. Outros anticorpos incluem os anticorpos ICA 512 e GAD (ou 64-K). A presença desses anticorpos é um sinal de que o corpo está atacando suas próprias células produtoras de insulina. Espero que os exames para detectar autoanticorpos tornem-se mais baratos e mais comuns no futuro próximo.
Um estudo intrigante publicado em outubro de 1999 mostrou que, medindo o número de autoanticorpos em irmãos de crianças com diabetes, era possível prever o risco de cada um desses irmãos vir a desenvolver o diabetes. Foi possível até mesmo prever quanto tempo levaria para que o diabetes se desenvolvesse.
Obviamente, essas são informações úteis. Isso se tornará especialmente útil quando encontrarmos formas de impedir que os autoanticorpos concluam suas ações destrutivas.
Minha esperança é que, no próximo século, a maioria das doenças - do câncer ao diabetes e até um simples resfriado - não sejam mais tidas como iniciais quando notarmos seus primeiros sintomas. Quando formos capazes de detectar o início verdadeiro desses processos, seremos muito mais capazes de prevenir e de tratar doenças antes que elas desencadeiem a desordem e a destruição em nossos corpos.
Alan Greene, M.D., recebeu o diploma de Bacharel pela Universidade de Princeton e graduou-se pela escola de medicina da Universidade da Califórnia, em São Francisco. Após concluir sua residência em pediatria no Children's Hospital Medical Center of Northern California (Centro Médico do Hospital da Criança do Norte da Califórnia) em 1993, ele atuou como Residente Chefe. Durante seu ano como Residente Chefe, o Dr. Greene passou nas juntas pediátricas entre os 5% melhores médicos do país.
O Dr. Greene ingressou na pediatria de cuidados primários em janeiro de 1993. Ele atua no Corpo Docente Clínico da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, onde atende os pacientes e ensina os Residentes. Ele atua como Diretor Médico da A.D.A.M., Inc., a provedora líder de informações de saúde para o consumidor, e ajuda a administrar o processo editorial da A.D.A.M. Como Diretor da A.D.A.M., ele atuou como membro fundador do Hi-Ethics (Ética para Sites de Saúde na Internet) e ajudou a URAC a desenvolver suas normas para certificação eHealth. Ele é, também, o Fundador e Presidente do DrGreene.com. Além disso, o Dr. Greene foi nomeado Herói da Saúde na Internet da Intel com relação à saúde da criança. Ele é autor, médico especialista e personalidade da mídia.
É o autor de The Parent's Complete Guide to Ear Infections (Guia Completo para Pais sobre Infecções de Ouvido, People's Medical Society, 1997). O Dr. Greene já apareceu em várias publicações, incluindo Wall Street Journal, Parenting, Parent, Child, American Baby, Baby Talk, Working Mother, Better Home's & Gardens e Reader's Digest. Ele também aparece frequentemente em programas de televisão e rádio como médico especialista.
Referências
Associação Americana de Diabetes. Standards of medical care in diabetes (Padrões de cuidados médicos em diabetes)--2009. Diabetes Care. 2009 Jan;32 Suppl 1:S13-61.
Alemzadeh R, Wyatt DT. Diabetes mellitus in children (Diabetes mellitus em crianças). In: Kliegman RM, ed. Kliegman: Nelson Textbook of Pediatrics. 18a. ed. Filadélfia, Pa: Saunders;2007:cap. 590.
Eisenbarth GS, Polonsky KS, Buse JB. Type 1 diabetes mellitus (Diabetes mellitus tipo 1). In: Kornenberg HM, Melmed S, Polonsky KS, Larsen PR. Kronenberg: Williams Textbook of Endocrinology. 11a ed. Philadelphia, Pa: Saunders Elsevier;2008:cap 31.
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